Elopement do Queijo e das Fajãs

 

Uma ilha vulcânica no meio do atlântico, escarpada, com uma cordilheira montanhosa composta por três complexos vulcânicos. Vista de cima, a ilha é um dragão verde a descansar num oceano azul. O dragão de São Jorge está adormecido e deixou que as gentes o povoassem, segundo a História, a partir de meados de 1460. 

Poderia muito bem ser uma ilha inventada por algum escritor Romântico do século XIX, contando a história de um amor proibido, mas existe mesmo e pode bem ser o local de um casamento (quase) secreto. 

As suas falésias escarpadas descem para planícies de terra em estreito contacto com o mar, as fajãs. Essencialmente, foram formadas por duas maneiras: pela lava que escorria dos vulcões que, em contacto com a água do mar, solidificava e pelas derrocadas das encostas. A estes pedaços de terra chamam-lhes fajãs. Ou paraísos. 

A Natureza criou uma ilha única no mundo – quem diria que estas pequenas planícies de terra pudessem tocar o ponto essencial de cada alma que por lá passa, para sempre. 

São Jorge é uma ilha de sentimento e as fajãs, mais do que cativar, prendem-nos pela emoção. Há um misticismo em relação a esta ilha, sobretudo nas fajãs. Há um bem-estar e uma tranquilidade que lá se pode experienciar, numa comunhão quase perfeita entre o homem e a natureza, mas é ainda mais do que isso. “Eu fecho os olhos e sinto”, a melhor e mais bonita definição de fajã dada por um Jorgense.

A relação entre o homem e a natureza nas fajãs é centenária. Algumas pessoas ainda hoje habitam permanentemente, mas era costume ser um local de cultivo e onde se passava o inverno devido ao clima quase tropical que a maioria das fajãs tem; a humidade e as temperaturas amenas permitiram A biodiversidade e os locais protegidos 

As fajãs já devem, certamente, ter sido palco de amores proibidos e fugas a dois, desde o seu povoamento até aos dias de hoje. Fugir para casar já não tem o mesmo significado que teve do século XV ao século XIX, embora, atualmente, os casais também possam casar em segredo e fugir dos casamentos tradicionais, cheios de gente e ansiedade, para realizarem uma cerimónia a dois ou com poucas pessoas, na busca de dias cheios de sentimento onde o ponto essencial é o amor. Porque uma união entre duas pessoas é uma união de almas e de vontades, que se quer tão perfeita e duradoura quanto a que o homem conseguiu aqui estabelecer com a ilha que o acolheu.

Dizer que as fajãs proporcionam esse estado de alma e de encantamento é dizer pouco. Há uma atmosfera que se sente e que não se consegue explicar, longe de olhares indiscretos, num local tão íntimo quanto o momento de união entre duas pessoas para a vida toda. Se fosse pensado para o efeito, o cenário não sairia tão perfeito quanto é na realidade: o verde das encostas escarpadas e do cultivo humano em conjunto com o mar azul ditam as cores predominantes. O contraste da pedra de basalto, negro. Algum casario típico, casas antigas, simples e bonitas, com as suas janelas viradas ao mar e uma torre de igreja compõe o cenário. Pode ainda haver piscinas naturais ou lagoas de água quase quente. Provavelmente, não estará frio, porque numa fajã nunca há frio, nem mesmo no inverno. Este é o pano de fundo para um elopment numa fajã em São Jorge. Mesmo quem não tenha o sonho de casar, aqui pode bem mudar de ideias…Como São Jorge está no meio do arquipélago, da encosta norte vê-se a Terceira e a Graciosa. A sul, sempre o Pico a servir de testemunha com um ou outro veleiro que vai passando no canal.

São Jorge como destino para um casamento cheio de significado, pintado de azul e de sentimentos profundos, está mais que justificado.

 

O mar azul é imperativo, bem como a terra e o fogo adormecido do dragão, mas aceso no coração. Que o vento traga amor profundo e verdadeiro para completar os quatro elementos essenciais à vida e à felicidade. Com tanta beleza verdadeira, só será preciso a vontade de trabalhar sempre numa vida a dois. Sejam felizes em São Jorge.


Texto: Dra Margarida Marques.