O Espírito que nos Une

Há momentos que nos agarram por dentro. Que não se explicam bem, mas que se sentem fundo. A Mordomia de 2024, nas Relvas, foi assim — mais do que uma celebração, foi um regresso à essência. À fé partilhada, à força dos laços familiares, à importância de continuar algo maior do que nós.

Para além dos mordomos locais, juntaram-se também mordomos vindos dos Estados Unidos — filhos do saudoso Sr. Manuel Maria, homem de presença marcante e expressão repetida: “Home, adeus amigo”. Como se esse jeito simples de se despedir fosse já uma saudade antiga, uma bênção que continuava a pairar sobre a freguesia.

Todas as tarefas contaram com a orientação do Sr. João Sequeira, figura incontornável desta tradição. Com uma memória precisa e um conhecimento profundo do que a festa exige, foi ele quem garantiu que nada faltava, que tudo se fazia a tempo e com respeito pelo que sempre se fez. Sem ele, não teria sido possível concretizar tanto.

A preparação foi intensa. Desde os tremoços colocados no mar até à organização das refeições, à logística dos carros de bois, à forma como todos — mesmo os que vinham de longe — se envolveram com espírito de entrega. Sem grandes formalidades — apenas t-shirts com o símbolo do Divino e uma vontade genuína de servir. E foi isso que fez a diferença.

A luz desses dias parecia querer sublinhar tudo. Havia calor no ar, nos gestos, nos olhares. Abraços de reencontro, sorrisos genuínos, emoção a crescer devagar ao longo dos momentos. Foi uma festa vivida sem pretensões, mas com verdade. E é isso que se guarda.

O Espírito Santo tem essa capacidade rara de unir. De pôr cada um no seu lugar certo, mesmo que tenha chegado de longe. De nos lembrar de onde viemos e do que importa. Porque há festas, sim — mas, acima de tudo, há pessoas. E há fé.

Foi bonito. Foi sentido. E vai ficar para sempre nos nossos corações.

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The Spirit That Unites Us

Some moments stay with us forever. Not just in photos, but deep in our hearts — felt more than explained.2024's “Mordomia” in Relvas was one of those moments. More than a celebration, it was a return to what truly matters: shared faith, family bonds, and the will to carry on something greater than ourselves.

Alongside the local “mordomos,” others came from across the ocean — descendants of the beloved Mr. Manuel Maria, a man remembered for his warm presence and his heartfelt farewell: “Home, adeus amigo.” Simple words that, somehow, still echo along these island roads like a blessing that never left.

Every task followed the steady guidance of Mr. João Sequeira, a key figure in preserving this tradition. With an extraordinary memory and deep knowledge of the customs, he ensured that nothing was forgotten, nothing left behind. Thanks to him, so much became possible.

The preparations were full of dedication — from soaking the lupini beans in the sea, to organizing meals and ox-cart logistics. Everyone took part with heart and effort, including those unfamiliar with the details but eager to contribute. There were no uniforms or elaborate garments — just simple T-shirts bearing the symbol of the Holy Spirit, and a genuine desire to serve. And that made all the difference.

The light during those days seemed to underline everything. Warmth was felt in the air, in the gestures, in the shared glances. Hugs from loved ones returning, honest smiles, emotion slowly building with each passing moment. It wasn’t a grand event — it was a true one. And that’s what stays with us.

The Holy Spirit has this rare ability to bring people together. To place each person right where they belong — even those who came from far away. To remind us where we come from, and what still matters. Yes, it’s a festivity — but above all, it’s about people. And faith.

It was beautiful. It was heartfelt. And it will stay with us forever in our hearts.